A construção de um Hospital Geral Municipal em Goiânia é uma proposta que vem sendo discutida desde 2018, durante a gestão de Iris Rezende, e aparece no Plano Municipal de Saúde (PMS) desde então. O projeto foi reafirmado no plano atual, que cobre o período de 2022 a 2025, mas ganhou impulso neste ano com as promessas eleitorais de candidatos. Apesar dessa diretriz, Goiânia ainda carece de um hospital público adequado para atender as demandas da população.
O prefeito eleito em 2020, Maguito Vilela, havia prometido construir um hospital municipal, inspirado pelo sucesso do HMAP em Aparecida de Goiânia, obra também idealizada por ele. No entanto, após o falecimento de Maguito devido à Covid-19, seu vice, Rogério Cruz, que assumiu a prefeitura, não deu continuidade ao projeto.
O Plano Municipal de Saúde (PMS) é o principal instrumento de planejamento e execução das políticas de saúde na cidade, guiando iniciativas em conformidade com os princípios do SUS. Ele embasa o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). Sua execução deve ser transparente e busca o atendimento das necessidades da população, com participação ativa da sociedade por meio do Conselho Municipal de Saúde e das Conferências Municipais de Saúde.
Nas eleições deste ano, Sandro Mabel, candidato eleito pelo União Brasil, declarou em um debate na TV Anhanguera que pretende construir um hospital municipal na Região Noroeste de Goiânia, voltado a casos de urgência e emergência e atendimento médico especializado. Adriana Accorsi, candidata do PT, também defendeu a construção de um hospital municipal, mas com apoio do governo federal.
A crise na saúde pública de Goiânia é um tema recorrente na mídia e nas discussões entre profissionais e entidades da área. O Conselho Regional de Medicina (Cremego) aponta uma crise sem precedentes, denunciando problemas como o sucateamento da rede pública, a demissão de médicos experientes, a sobrecarga dos profissionais e as contratações precárias de empresas privadas, que desrespeitam direitos trabalhistas.
A presidente do Sindsaúde-GO, Néia Vieira, defende a necessidade de um hospital municipal em Goiânia, argumentando que a cidade, por ser um polo de atendimento de saúde, recebe pacientes de todo o estado e de outros estados vizinhos, o que torna a rede atual insuficiente para atender a todas as demandas.
Paulo Garcia, que foi vice de Iris Rezende e depois prefeito de Goiânia, também apoiava a criação de um hospital municipal e, durante sua gestão, inaugurou o Hospital e Maternidade Dona Íris em 2013. Em uma entrevista de 2016, Paulo afirmou que Goiânia, então com 1,3 milhão de habitantes, recebia muitos pacientes de outros municípios e estados, somando cerca de seis milhões de inscritos no SUS. Ressaltando a urgência de ampliar a rede pública de saúde na capital.
Secretário de Saúde
Em uma reportagem publicada pelo Jornal Opção em 28 de janeiro deste ano, a jornalista Giovana Campos relatou declarações do Secretário de Saúde, Wilson Pollara, sobre a construção de um hospital municipal em Goiânia. Pollara afirmou que, até o momento, não houve discussões concretas sobre essa possibilidade, mas reconheceu que a melhoria na atenção básica poderia ajudar a resolver diversos problemas na área da saúde. “Não há nada definido a respeito desse assunto. Goiânia tem tudo para ser exemplo para o Brasil”, disse.
A Rede de Atenção à Saúde em Goiânia é composta pelos seguintes serviços:
- 54 Unidades de Saúde da Família
- 21 Centros de Saúde
- 16 Unidades de Atenção à Urgência
- 14 Centros de Atenção Psicossocial
- 3 Maternidades
- 13 Ambulatórios de Especialidades
- 1 Farmácia de Insumos e Medicamentos
- 1 Centro Municipal de Vacinação
- 1 Central de Regulação
Além disso, Goiânia também conta com serviços contratualizados, como internações, exames e reabilitação.
HMAP
Goiânia pode se inspirar no exemplo do Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (HMAP), construído entre 2013 e 2016, durante a gestão do prefeito Maguito Vilela, e inaugurado em 19 de dezembro de 2018 pelo prefeito Gustavo Mendanha. O hospital é administrado pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, referência internacional em excelência em serviços de saúde.
O HMAP é o maior hospital do estado construído por uma prefeitura e atende não só a população de Aparecida, mas também é referência para outros 55 municípios da região Centro-Sudeste. O acesso aos seus serviços ocorre via Central Municipal de Regulação.
Com 17.437,25 m², o HMAP está em pleno funcionamento e, em apenas dois anos sob a gestão do Einstein, tem promovido impactos positivos para a população ao aliar tecnologia de ponta, práticas de gestão eficientes e compromisso com a humanização, além da capacitação de profissionais da região.
“Já é possível notar o impacto do Einstein em todo o sistema de saúde goiano, público e privado. Isso decorre do nosso compromisso com a excelência e a eficiência, ao implementar tecnologias e inovações que melhoram a vida das pessoas e reduzem os custos com saúde”, diz Sidney Klajner, presidente da organização.
Desde que assumiu a gestão do HMAP, em junho de 2022, o Einstein implementou um modelo que aprimorou a qualidade e segurança do atendimento, além de otimizar recursos. Nos primeiros seis meses de gestão, as filas de UTI foram reduzidas e a capacidade de atendimento dos leitos foi dobrada. A fila para cirurgias eletivas foi eliminada em menos de um ano, graças a mutirões cirúrgicos que priorizaram demandas urgentes, como cirurgias ortopédicas e urológicas.
O tempo médio de permanência dos pacientes no hospital caiu de 9,5 para 5 dias. Em junho de 2022, o HMAP realizou 218 altas hospitalares; em novembro, esse número quadruplicou, atingindo 907. A taxa de mortalidade, que era de 15,3% em junho de 2022, caiu para 3,6% em novembro.
A média de pacientes internados diariamente aumentou de 2.657, em junho de 2022, para 5.090 em junho de 2023. A taxa de reinternação, que tem uma meta máxima de 20%, nunca chegou a 10% sob a gestão do Einstein.
A área de hemodinâmica, que realiza procedimentos minimamente invasivos para tratar doenças cardíacas e neurológicas, foi um importante conquista para o HMAP. Em 2023, foram realizados 2.593 procedimentos, um aumento de 5,6 vezes em relação a 2022.
O projeto Supra, que utiliza inteligência artificial para identificar precocemente sintomas de infarto com supradesnível do segmento ST, também foi implementado, oferecendo um atendimento mais rápido e eficaz para esses casos. “A agilidade da equipe define a qualidade de vida do paciente no pós-operatório, tornando o projeto essencial”, destaca Felipe Piza, diretor médico do Einstein Goiânia e do HMAP.
Entre julho de 2023 e junho de 2024, 83% das internações no HMAP foram de moradores de Aparecida de Goiânia. Para atendimentos ambulatoriais, esse número chegou a 95%. Segundo Sidney Klajner, esses resultados refletem uma gestão que integra tecnologia, qualidade e humanização.
“A sinergia entre os setores público e privado permite que inovações e melhores práticas sejam compartilhadas, beneficiando o paciente no serviço público e a comunidade como um todo. O impacto positivo na saúde da população do Centro-Oeste reflete nosso compromisso com melhorias sustentáveis e inovadoras no sistema de saúde brasileiro”, afirma Klajner.
2º melhor hospital público do Brasil e um dos melhores da América Latina
O HMAP é o segundo melhor hospital público do país e o único do Centro-Oeste a figurar entre os melhores da América Latina, de acordo com o ranking da Intellat, que há mais de 16 anos avalia a qualidade de 61 hospitais latino-americanos com base em critérios como segurança, eficiência, tecnologia, telemedicina, sustentabilidade, gestão de pessoas, produção de conhecimento, experiência do paciente e prestígio.
Além de fazer parte de um seleto grupo de oito hospitais brasileiros no ranking internacional, o HMAP foi classificado em 36º lugar entre as 61 unidades. Também foi reconhecido em uma pesquisa de prestígio realizada com 8.660 profissionais da área hospitalar e de saúde na América Latina, onde ocupou a 12ª posição entre as unidades brasileiras, destacando-se pela reputação e influência no setor de saúde.
Parceria com o Albert Einstein será mantida
O prefeito eleito, Leandro Vilela, já se reuniu com o presidente da Sociedade Brasileira Israelita Albert Einstein e confirmou a continuidade da gestão do HMAP pela entidade. “Vamos preservar essa gestão de excelência e expandir o HMAP com mais 60 leitos, dos quais 30 serão dedicados ao tratamento oncológico”, destacou Vilela.
Atualmente, a unidade conta com 235 leitos, incluindo 35 de UTI, e realiza mensalmente mais de 1.100 internações clínicas, 8 mil consultas ambulatoriais, 7 mil exames de imagem e aproximadamente 645 cirurgias eletivas. Com essa estrutura, o hospital consolidou-se como um pilar do sistema de saúde em Aparecida, oferecendo serviços acessíveis por meio da Central Municipal de Regulação.
Pacientes aprovam Atendimento e Estrutura do Hospital Municipal HMAP
Warley da Silva Gomes, de 32 anos, morador do Jardim Dom Bosco II em Aparecida de Goiânia, relatou que precisa realizar uma cirurgia de ligamentos no joelho e está satisfeito com o atendimento. “O atendimento aqui é 100%, não tenho do que reclamar. Esse hospital melhorou muito para nós”, afirma.
Clezia de Jesus do Nascimento Oliveira, de 43 anos, residente no Parque Trindade I, também em Aparecida de Goiânia, leva sua filha diabética ao hospital para tratamento e destaca a qualidade dos serviços oferecidos. “No geral, aqui é melhor que muitos hospitais particulares, pois existe muita dificuldade em encontrar um endocrinologista e pediatra que entenda de diabetes tipo 1, e aqui encontro tudo e do melhor”, observa Clezia.
Graziela Maria, de 27 anos, moradora do Setor Colina Azul, estava com o filho internado na pediatria da unidade devido a crises asmáticas. Ela elogia a excelência do hospital. “Tudo aqui é feito com excelência, começando pela higiene do local. As crianças e todos os pacientes são tratados com humanidade”, afirma. Graziela ainda ressalta que Goiânia merece um hospital semelhante: “Os moradores de Goiânia merecem um hospital assim”.
Edivânia Francisca dos Santos, de 33 anos, moradora do Virginia Park, expressa gratidão por ter acesso a um hospital com essa estrutura. Ela, que estava com o filho internado por complicações da Covid-19, emocionou-se ao falar sobre o HMAP. “Sou da Paraíba e lá é tudo da pior qualidade. Quando entrei com meu filho e vi como fomos recebidos, como ele é tratado, nem parece hospital público. Me sinto em um hospital particular, e dos mais caros (risos). Só tenho que agradecer”, conclui Edivânia.
Diante desse cenário, algumas perguntas se tornam necessárias: por que Goiânia ainda não tem um hospital municipal? A construção de um hospital municipal ajudaria a melhorar a saúde da capital? É viável politicamente a construção de um hospital municipal? Para responder a essas questões, o Jornal Opção ouviu políticos, especialistas e entidades sobre a possibilidade de Goiânia ter um hospital municipal; Confira.
Procurada pela reportagem, Adriana Accorsi, que defendia de forma contundente a construção de um hospital municipal durante sua campanha, afirmou: “Toda cidade com um bom atendimento de saúde pública tem um hospital público municipal, como Aparecida de Goiânia, onde não só eu, mas também os índices nacionais, avaliam como muito bom”, garantiu. Adriana admitiu que não foi procurada por Sandro Mabel para discutir seu projeto, mas colocou-se à disposição. “Estou à disposição para ajudar em tudo o que eu puder.”
Adriana reforçou que o governo Lula já havia se comprometido a ajudar na construção e manutenção do hospital. Para justificar suas propostas, ela lembrou que cidades como Aparecida de Goiânia melhoraram o atendimento à saúde após a construção do HMAP (Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia).
O ex-secretário de saúde de Aparecida de Goiânia, Dr. Alessandro Magalhães, que estava à frente da gestão quando o HMAP foi inaugurado, avaliou que cada município tem suas peculiaridades. Por isso, acredita que, em Goiânia, não há urgência na construção de um hospital municipal, mas sim a necessidade de melhorar a rede de saúde existente que, segundo ele, tem capacidade para oferecer serviços de qualidade à população.
Dr. Alessandro explicou que, em Aparecida de Goiânia, havia um déficit de vagas para internação, e, devido ao bom relacionamento que Maguito Vilela tinha com Brasília, a construção do HMAP foi viabilizada com relativa facilidade. Ele destacou que Aparecida não recebia investimentos privados.
O médico ainda explicou que Goiânia tem cerca de 6.300 leitos, entre públicos e privados, e que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda entre dois e quatro leitos para cada 100 mil habitantes. Nesse sentido, Goiânia possui 4,3 leitos para cada 100 mil pessoas. “Na realidade, a capital tem leitos suficientes, mas, como Goiânia é referência para todo o estado e até para outros estados, talvez não consiga atender toda a demanda”, observou.
Nesse contexto, Dr. Alessandro afirmou que o maior desafio do próximo secretário de saúde será otimizar a utilização dos leitos disponíveis. “Acredito que muitos desses leitos estão ociosos”, disse. Ele explicou que isso ocorre devido a fatores como a regulação e as tabelas de pagamento. “Uma diária de UTI no SUS custa em média R$ 800, enquanto na rede privada o custo é de no mínimo R$ 2,5 mil. Por isso, o hospital prefere manter o leito vazio do que oferecê-lo ao SUS sem a certeza de que o pagamento será feito”, afirmou.
O médico reiterou que a nova administração precisa primeiro identificar onde estão esses leitos. “Depois, deve chamar os proprietários e verificar o que é possível fazer para otimizar a rede existente, antes de pensar na construção de um hospital público”, sugeriu.
Dr. Alessandro também destacou que, embora Goiânia não tenha um hospital municipal, existem hospitais estaduais, como o HGG, o HDT, o CRER, o antigo Materno Infantil, o HUGO e o HUGOL, que atendem bem à população.
No entanto, ele frisou que, se o novo gestor decidir não depender da rede privada, será necessário considerar a construção de uma unidade hospitalar municipal. “Vale lembrar que um hospital de cerca de 21 mil metros quadrados custa aproximadamente R$ 160 milhões”, alertou.
Outro ponto destacado foi o novo Hospital das Clínicas, projetado para 600 leitos, mas funcionando apenas com metade da capacidade, devido à falta de implementação completa. Dr. Alessandro sugeriu que o poder público busque uma parceria com o HC para viabilizar a ampliação.
O médico e deputado estadual Jamil Calife (PP) lembrou que já existem hospitais municipais em outras cidades de Goiás que atendem bem à população. Ele se posicionou a favor da construção de um hospital municipal em Goiânia, mas destacou que as verbas para a construção e manutenção devem vir dos três níveis de governo: federal, estadual e municipal.
Calife também ressaltou que, tanto Goiânia quanto outras cidades que planejam ter uma unidade de saúde própria, devem considerar que outras cidades, e até outros estados, podem utilizar o hospital, uma vez que a saúde não pode ser negada a ninguém. Por isso, ele sugeriu que os municípios próximos se unam para formar um consórcio. “Acredito que assim seria possível construir um hospital de referência em saúde”, afirmou.
O vereador Raphael Cavalcante Calixto, conhecido como Raphael da Saúde (SD), afirmou que, embora seja a favor de investimentos em prevenção e atenção básica, considera importante discutir a construção de um hospital municipal em Goiânia.
“Goiânia é uma das poucas capitais que não tem um hospital municipal. Precisamos urgentemente de um hospital, e talvez não seja necessário começar do zero, pois já temos espaços que poderiam ser reformados, como o Hospital Municipal da Mulher e Maternidade Célia Câmara, que possui uma boa estrutura”, sugeriu.
O vereador também destacou que o hospital poderia ser utilizado como um campo de estudo para universidades. “Faço votos para que Goiânia tenha logo seu hospital municipal”, concluiu.
O médico e deputado estadual George Morais (PDT) afirmou que já passou da hora de Goiânia ter um hospital municipal. “Acredito que isso é viável e ajudaria a otimizar os serviços e reduzir os custos. O que se gasta com convênios poderia ser usado para manter uma unidade hospitalar municipal”, disse.
Morais explicou que, quando foi prefeito de Santa Bárbara de Goiás, a prefeitura mantinha um hospital que atendia a cidade e outras vizinhas, como Trindade. “Isso facilita o atendimento à comunidade, agilizando os serviços”, contou. Ele acrescentou que a administração do hospital deveria ser feita pelo município. “É um absurdo que Goiânia, a capital de Goiás, não tenha um hospital municipal, enquanto a maioria dos municípios tem”, afirmou.
O médico clínico geral e vereador em seu quarto mandato, Dr. Gian (MDB), também defendeu a construção de um hospital municipal em Goiânia. “Lutei durante todos os meus mandatos como vereador para viabilizar essa construção. Espero que, agora, com o prefeito eleito Sandro Mabel, possamos conseguir recursos federais para realizar esse sonho”, afirmou.
Dr. Gian destacou que o Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (HMAP) é uma referência de excelência. “Tive a oportunidade de entregá-lo junto com o ex-presidente Michel Temer, do meu partido, o MDB. A gestão do hospital é de excelência, conduzida pelo Hospital Albert Einstein. Podemos fazer algo semelhante em Goiânia”, sugeriu.
Ele reiterou que a construção de um hospital municipal em Goiânia ajudaria a agilizar atendimentos, cirurgias e internações. “Do ponto de vista político, seria a maior obra em saúde pública municipal, tão esperada há muitos anos pelos goianienses”, concluiu.
A vereadora Kátia Maria (PT), presidente da Comissão de Saúde e Assistência Social da Câmara, afirmou que a saúde de Goiânia está “na UTI”. “Ter um hospital municipal é importante, mas antes é preciso estruturar a rede existente e garantir o atendimento de qualidade nas Cais, UPAs e Unidades Básicas de Saúde”, destacou.
Kátia Maria lembrou que a situação da saúde pública em Goiânia é grave. “Quem mais sofre com isso é a população pobre, que não tem condição de pagar um plano de saúde ou consulta particular”, disse.
Néia Vieira, presidente do Sindsaúde, também defendeu a construção urgente de um hospital municipal. “A rede existente não consegue atender toda a demanda, pois também atende às demandas do estado. A construção desse hospital é necessária e deve ser referência para a atenção primária, oferecendo equipamentos e diagnósticos adequados para atender as necessidades da atenção secundária e terciária”, afirmou.
Néia ainda explicou que Goiânia nunca teve um hospital municipal porque as administrações anteriores nunca priorizaram essa questão. “Infelizmente, ainda não houve o entendimento de investir na rede pública em detrimento da rede conveniada, e por isso pagamos um preço mais alto pela gestão dos serviços de saúde”, lamentou.
Ela também destacou que, mesmo com um hospital, não se deve negligenciar os investimentos na rede primária. “O hospital é apenas uma parte de uma rede de saúde que precisa ser estruturada desde a atenção primária, para garantir uma saúde de qualidade e ter uma estrutura adequada quando necessário”, concluiu.
Néia Vieira, contudo, se mostrou contrária à gestão de unidades hospitalares por terceiros. “O município deve ser o responsável pela administração dos hospitais. Não podemos ficar reféns de organizações sociais, como aconteceu no HUGO, onde cinco organizações passaram pelo hospital nos últimos anos”, afirmou. “Defendemos uma administração direta, ou, no mínimo, que os servidores sejam concursados e tenham seus direitos trabalhistas respeitados.”
Moradores de Goiânia aprovam a construção de um hospital municipal
Miguel Filho, 56 anos, motorista de aplicativo e morador do Setor São Judas Tadeu, em Goiânia, afirma que a capital merece um hospital municipal de qualidade. “Sim, Goiânia merece um hospital público municipal que atenda com excelência à saúde dos goianienses, com uma estrutura de primeira e a um custo acessível ou até mesmo gratuito para aqueles que realmente necessitam de atendimento de emergência”, diz ele.
Caio Fábio, 38 anos, fisioterapeuta e morador do Residencial Alice Barbosa, também é a favor da construção de um hospital municipal. “Acredito que precisamos de um hospital público municipal, para que, onde faltarem recursos estaduais ou federais, possamos contar com um hospital bem estruturado e com recursos próprios da cidade. Além disso, é evidente a necessidade de expandir o atendimento em urgências e emergências, que é precário e sobrecarregado”, afirma Caio.
Welbertt Helry, 34 anos, assistente financeiro e morador do Setor Urias Magalhães, acredita que a construção de um hospital municipal seria uma grande ajuda. “Sim, acredito que ajudaria muito, pois sabemos que a saúde pública em geral não é das melhores. Além disso, as unidades de saúde estão sobrecarregadas. Com um hospital municipal, creio que aliviaríamos a demanda em algumas unidades, proporcionando mais opções de atendimento”, observa.
O advogado e pastor Assir Barbosa da Silva, 65 anos, morador do Jardim São Judas Tadeu, em Goiânia, destaca que, embora não use frequentemente o sistema de saúde público, acompanha pessoas a unidades de saúde da Prefeitura, como CAIS e CSF, e percebe a superlotação nos locais.
“É comum ver muitas pessoas espalhadas pelos corredores, criando uma sensação de competição por atendimento, o que muitas vezes gera desconforto, especialmente para quem já está fragilizado. Penso que a construção de um hospital municipal poderia centralizar alguns atendimentos, oferecendo mais qualidade e um atendimento mais humanizado, algo que nem sempre vemos nas unidades atuais. No entanto, é importante lembrar que apenas construir o hospital não é suficiente. Será necessário um planejamento adequado e a ampliação do quadro de servidores municipais, para não prejudicar as unidades de saúde já existentes”, avalia Assir.
Exemplos de Outros Municípios
Rio Verde
Rio Verde, com mais de 230 mil habitantes e localizada na região Sudoeste de Goiás, é uma cidade que pode servir de inspiração para Goiânia. A gestão do prefeito Paulo do Vale (MDB) iniciou, em 2023, a construção do que será, após a conclusão, o maior hospital municipal de Goiás. Ao todo, serão 40 mil metros quadrados de edificação, com cerca de 23 mil metros quadrados de área construída, abrigando leitos de enfermarias e UTIs.
Vale destacar que a obra será financiada integralmente com recursos municipais. O Hospital Municipal Universitário (HMU) contará com 320 leitos, sendo 40 de UTI, com uma UTI coronariana, e 8 salas cirúrgicas, que incluirão a realização de cirurgias robóticas. Esta será uma inovação para a cidade, já que Rio Verde terá a primeira unidade com equipamento de cirurgia robótica no interior do estado de Goiás. Além disso, o hospital contará com um espaço dedicado ao ensino e à pesquisa, oferecendo aos estudantes a oportunidade de aprendizado prático.
O HMU também terá consultórios e serviços ambulatoriais, oferecendo à população de Rio Verde e da microrregião do sudoeste serviços de média e alta complexidade nas especialidades de cardiologia, ortopedia, neurologia e cardiovascular, áreas nas quais o município atualmente depende totalmente de Goiânia.
O prefeito eleito Wellington Carrijo (MDB) destaca que o HMU contará com o que há de mais moderno em cirurgia robótica, especialmente na área de urologia. “Uma cirurgia para retirada da próstata com esse padrão é caríssima. Para se ter uma ideia, no Hospital Albert Einstein, esse serviço custa entre R$ 70 mil e R$ 100 mil, e nossa cidade terá esse atendimento gratuitamente para a população”, afirmou. As obras estão avançadas, com cerca de 70% de execução, e a previsão de entrega é para o final de 2025.
Catalão
O Hospital Universitário Regional de Catalão começou a ser construído em abril de 2022, durante a gestão de Adib Elias (MDB). O hospital contará com 200 leitos e terá capacidade para atender, em média, 1.200 pacientes por dia. A área construída será de 12.610 metros quadrados. O investimento total é de aproximadamente R$ 100 milhões. A unidade atenderá toda a população de Catalão e da região sudeste goiana.
De acordo com o deputado federal José Nelto (UB), o hospital será transferido para o governo federal por meio da Universidade Federal de Catalão (UFCAT) e será gerido e mobiliado em 2025 pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), uma empresa pública vinculada ao Ministério da Educação (MEC), que oferece serviços médicos, hospitalares, ambulatoriais e de apoio diagnóstico e terapêutico. José Nelto informou que já empenhou, no Ministério da Saúde, R$ 70 milhões para o projeto.
A reportagem procurou outros políticos de Goiás para comentar sobre o tema, além de questionar a Secretaria de Saúde de Goiânia, mas não obteve resposta. O espaço permanece aberto para contribuições.
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