Em vez da viagem que faria a Goiás na manhã desta sexta-feira (16), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou o compromisso e convocou reunião com o ministro da Defesa, José Múcio, e o comandante do Exército, general Tomás Paiva. O encontro não programado foi agendado às pressas. Para discutir o novo documento golpista encontrado pela Polícia Federal no celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid.
Na reunião do final da manhã, ficou decidido que o coronel Jean Lawand Junior não irá mais para a representação diplomática do Brasil em Washington, como estava previsto. O general Tomás Paiva havia assinado portaria na qual designava Lawand para a missão a partir de 2 de janeiro de 2024. A portaria foi revogada após a descoberta das conversas de Mauro Cid e o coronel.
Cid e o Estado de Sítio
Em mais um capítulo da novela golpista envolvendo auxiliares diretos do ex-presidente, foi divulgado, pela revista Veja, o teor de um roteiro intitulado “Forças Armadas como poder moderador”, no qual há um planejamento concreto para nomear um interventor, afastar ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a marcar novas eleições, anulando o pleito de 2022 que elegeu Lula. É mais minucioso do que a minuta encontrada na casa de Anderson Torres.
Segundo o colunista Tales Faria, do portal UOL, Lula pediu ao comandante do Exército e ao ministro da Defesa “que façam uma limpeza no Exército, afastando todos os militares que tenham qualquer suspeita de participação em golpe”.
O plano de golpe de Estado encontrado pela Polícia Federal no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, previa a decretação de “estado de sítio” no país. O documento ainda citava o trabalho do Ministério da Defesa na fiscalização das urnas eletrônicas e uma ação do PL, partido do ex-presidente, para “justificar” a medida.
O arquivo tinha uma série de justificativas para embasar o “estado de sítio”, como supostas “decisões ilegítimas” do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que teriam o objetivo de “limitar a transparência” do processo eleitoral e impedir o acesso de militares ao código-fonte das urnas.
Coincidências sinistras
O plano mirabolante e irrealista, encontrado no celular de Cid, previa que esse grupo golpista revogaria decisões do TSE que considerasse inconstitucionais. A diplomação de Lula seria uma delas. A cerimônia que diplomou o petista, coincidentemente, ocorreu em 12 dezembro.
Naquela data, à noite, terroristas promoveram quebra-quebra em Brasília e provocaram incêndios em automóveis e ônibus, além de tentar invadir a sede da Polícia Federal. Tudo indica que a tentativa era provocar o caos, para justificar a intervenção das Forças Armadas como “poder moderador”, a chamada garantia da lei e da ordem (GLO) invocada pelo bolsonarismo. Outra coincidência sinistra é que o dia seguinte, 13 de dezembro, seria aniversário do AI-5, o ato da ditadura que fechou o regime ainda mais, em 1968.
O documento agora revelado previa o afastamento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski. Eles seriam substituídos pelos convocados Kassio Nunes Marques, André Mendonça (esses dois nomeados por Bolsponaro) e Dias Toffoli.
Tudo começou com fraude da vacina
“Bolsonaro e seus aliados atentaram explicitamente contra o estado democrático de direito e a fraude da vacinação revelará os planos golpistas do 8 de janeiro. Vamos trabalhar incansavelmente para desmascarar e responsabilizar todos eles”, diz o senador Rogério Carvalho (PT-SE), segundo texto divulgado na página de seu partido na internet. Para ele, “tudo isso começou a ser revelado a partir da constatação de que houve fraude nos cartões de vacinas”.
Com informações da RBA e DCM