O ex-governador Marconi Perillo, do PSDB — assim como Alexandre Baldir, do pP —, cometeu um erro crasso em política: entre 2019 e 2022 mudou-se de Goiás para São Paulo e praticamente perdeu contato com seu Estado.
Então, em 2022, com o objetivo de disputar mandato de senador, voltou para Goiás. Muitos de seus aliados haviam trocado de lado, sentindo-se, de modo geral, abandonados por Perillo. O resultado das urnas foi implacável: o ex-governador foi derrotado por Wilder Morais, do PL, que, aferrando-se à onda bolsonarista, foi eleito senador.
Percebendo o erro cometido em 2022 — um segundo erro foi não ter verificado como sua rejeição era alta e consolidada —, Perillo está disposto a se mudar para Goiás. Pelo menos estaria disposto a permanecer mais tempo no Estado.
Perillo está andando pelo interior (Rio Verde, Santa Helena etc.) e tem feito uma série de visitas a aliados tucanos e a personalidades da sociedade. A todos está dizendo a mesma coisa: não será candidato a prefeito de nenhuma cidade em 2024, pois vai se preparar para disputar o governo em 2026.
Nas conversas, Perillo estaria dizendo que, daqui a pouco mais de três anos, o vice-governador Daniel Vilela, do MDB, e o senador Wilder Morais, do PL, devem disputar o governo de Goiás. O primeiro será apadrinhado pelo governador Ronaldo Caiado, do União Brasil. O segundo será apadrinhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL.
De acordo com pessoas que têm conversado com Perillo, o ex-governador parece acreditar que, como postulante da terceira via, pode surpreender tanto Daniel Vilela como Wilder Morais.
Quais são as chances reais de Perillo? Ainda não dá pra saber, pois as eleições vão ser disputadas muito adiante. Mas ele precisa considerar pelo menos duas coisas.
Primeiro, a partir de abril de 2026, Daniel Vilela possivelmente será governador de Goiás — com a provável saída de Ronaldo Caiado para disputar a Presidência da República. Ou seja, será um candidato com a máquina nas mãos — além de contar com o apoio de um cabo eleitoral extraordinário, Ronaldo Caiado.
Segundo, Wilder Morais, além de senador, contará com o apoio de Bolsonaro, que, se for candidato a presidente (há quem postule que ficará inelegível), será um aliado consistente.
Ante duas candidaturas possivelmente sólidas, largamente sedimentadas em todo o Estado — e frise-se que o PSDB está mal em Goiás, à beira da extinção (e o comando da federação que inclui Podemos, Cidadania e PSDB deve passar para o controle de não-aliados) —, a situação de Perillo para 2026 não é nada confortável.
É possível que as duas derrotas de Perillo, em 2018 e 2022, ambas para senador, o tenham tornado mais realista. Se isto for verdade, a tendência é que não se aventure para uma campanha majoritária em voo solo, porque, se o fizer, poderá não conseguir montar nem mesmo chapas de deputado estadual e federal (só elegeu uma deputada federal em 2022, Lêda Borges, hoje alinhada com o governador Ronaldo Caiado).
A tendência é que Perillo tente acoplar uma candidatura na chapa de Wilder Morais — como postulante a uma vaga no Senado ou na Câmara dos Deputados. Isto, claro, se não quiser contabilizar uma terceira derrota ao seu belo currículo (deputado estadual, deputado federal, quatro vezes governador e uma vez senador). Uma nova derrota pode selar seu afastamento, em definitivo, da política.
O exemplo de Iris Rezende talvez seja útil a Perillo. O decano emedebista não saiu da política, ao perder a eleição para governador, em 1998, 2010 e 2014. Porém, nunca mais conseguiu se eleger para um cargo de caráter estadual. Terminou sua carreira política como prefeito de Goiânia e, para “derrotar” o grupo de Perillo, teve de se aliar ao governador Ronaldo Caiado. Ou seja, de político estadualizado, o líder do MDB se tornou um político municipal.
Se o exemplo for útil, o realismo sugere que Perillo dispute mandato de deputado federal — as chances de ser eleito são altas — e, em 2030, tente voltar ao governo. (E.F.B.)