Muitos olhariam para a cena e diriam “quem te viu, quem te vê”; os mais pragmáticos, se lembrariam do princípio de Otto von Bismarck, o unificador da Alemanha, segundo o qual “a política é a arte do possível” – frase dita em meados do século 19, mas sempre atual.
O fato é que ninguém deixa de se admirar – não fazendo aqui o juízo de valor sobre o sentimento – da elegância recíproca que tem havido na relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil).
Na reunião do mandatário nacional com os 27 gestores das unidades federativas, Caiado recebeu agradecimento especial do próprio presidente. Lula, em seu discurso se mostrou bastante satisfeito e grato pelo fato de o governador ter disponibilizado prontamente as forças de segurança do Estado para interceptar veículos que levavam suspeitos dos ataques contra os prédios dos três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro.
O encontro serviria para os governadores colocarem ao presidente suas principais reivindicações. Mas o goiano foi além, adotando uma postura altiva: “Eu não vim aqui só pedir, eu vim trazendo a experiência dos programas sociais que fizemos em Goiás para propor uma política conjunta entre Estados e governo federal”, disse, em entrevista. De fato, Caiado está determinado a impor uma forte marca social em seu segundo mandato, o que, por essa via, promove um atalho em sua relação com o atual ocupante da Presidência.
O passado mostrou o antagonismo entre o parlamentar Ronaldo Caiado e as teses defendidas por Lula e pelo PT. O governador já disse, várias vezes, que foi referência na luta contra as esquerdas. Da mesma forma, o presidente foi muitas vezes ferino com Caiado e talvez mais ainda com seu partido – o petista declarou, em 2010, que seria preciso “extirpar o DEM da política brasileira”. O DEM hoje é o União Brasil, após fusão com o PSL.
Muitos políticos envelhecem sem amadurecer no exercício da função. Ao contrário, alguns até degeneram. Não é o caso, em absoluto, do quem vêm demonstrando Caiado e Lula em discursos e ações. Mais do que isso, eles entendem outro princípio básico da política: governo não briga com governo.