A agenda econômica da candidata à Casa Branca pelo Partido Democrata e atual vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, 59 anos, propõe enfrentar a crise habitacional e proteger o poder de compra da população com a adoção de novas regulamentações e de medidas fiscais. A adversária de Donald Trump anunciou o plano econômico a 81 dias das eleições de 5 de novembro e tentou destacar a diferença entre ela e o magnata republicano. "Donald Trump briga pelos bilionários e as grandes empresas. Nós, eu, lutarei para devolver dinheiro aos americanos trabalhadores e de classe média", disse Kamala, ao discursar no Centro Hendick para Excelência Automotiva, em Raleigh, capital da Carolina do Norte.
A democrata acusou Trump de planejar impor à sociedade um imposto nacional sobre as vendas de produtos de uso diário e de primeira necessidade importados pelos EUA de outros países. "Isso devastaria os americanos", advertiu. Para Kamala, a medida defendida pelo ex-presidente significa o aumento de preços em quase todos os produtos de uso diário. "É o imposto Trump sobre a gasolina, o imposto Trump sobre a comida, o imposto Trump sobre a roupa", ironizou. O republicano qualificou a agenda da democrata de "comunista".
Professor de gerenciamento político pela Universidade George Washington (em Washington D.C.), Matthew Dallek afirmou ao Correio que as propostas de Kamala são um "conjunto sensato de reformas desenhadas para ajudar os americanos de renda média e baixa a pagarem pelos custos da alimentação e de cuidados infantis". "Embora não haja uma bala de prata para controlar a inflação — em queda constante ao longo dos últimos meses —, os planos de Kamala provavelmente ajudarão mais americanos e ficarem bem, a pagarem por suas necessidades e a prosperarem", disse.
Sobre a proposta de controle das companhias que "inflacionam" preços além do necessário, Dallek explicou que os EUA nunca testaram um esforço federal para controlar a manipulação dos custos dos alimentos. "É difícil saber como a ideia funcionaria na prática. Talvez isso envie um sinal às empresas alimentícias e aos supermercados de que os reguladores federais estão de olho, e eles precisam ter cuidado para não extorquir os consumidores', comentou.
No início da noite, o ex-presidente democrata Barack Obama elogiou os anúncios recentes feitos por Kamala Harris. "Desde limitar o custo de medicamentos prescritos para todos até fornecer suporte financeiro para compradores de imóveis, pela primeira vez, e restaurar o crédito tributário infantil para famílias, Kamala Harris acaba de expor algumas maneiras pelas quais ajudará a reduzir os custos para o povo americano", escreveu na rede social X. "Ela tem a visão, o caráter e a força que esse momento crítico exige, e eu sei que ela vai entregar. Vamos trabalhar!"
Reação
Trump reagiu à agenda econômica de Kamala adotando um termo de forte conotação pejorativa nos Estados Unidos. "Camarada Harris está indo a fundo no comunismo!", disse o republicano, crítico contumaz do controle sobre os preços. "Houve várias tentativas na história de limitar os preços e elas fracassaram porque provocaram filas na frente das lojas, escassez e uma explosão de desigualdade", criticou o milionário de 78 anos.
De acordo com uma pesquisa divulgada pela Universidade de Michigan, 41% dos consumidores acham que Kamala é uma candidata melhor para a economia, e 38% acreditam que Trump é o indicado nessa questão. Na segunda-feira, começará em Chicago a Convenção Nacional Democrata — com duração de quatro dias, o evento confirmará o nome de Kamala na quinta-feira (22/8).
"É provável que Kamala buscará aumentar os impostos dos norte-americanos mais ricos, fornecer alívio fiscal e criar programas de gastos para famílias de renda baixa e média, além de reduzir a lacuna entre os que têm e os que não têm. Mas, precisamos saber mais sobre a agenda de Kamala e sobre qual partido controlará o Congresso."
Matthew Dallek, professor de gerenciamento político pela Universidade George Washington (em Washington D.C.)