Enquanto a mídia global se sensibiliza com a morte de cinco milionários num turismo mórbido nos destroços do Titanic, milhares de refugiados morrem todos os anos no Mediterrâneo

Mais de 20 mil imigrantes e refugiados morreram afogados desde 2014 tentando cruzar o mar Mediterrâneo, que separa o Norte da África da Europa, segundo disse a Acnur, agência para refugiados da Organização das Nações Unidas (ONU), mas estes milhares de refugiados não tem nome. Para mídia importam apenas as mortes do empresário e aventureiro britânico Hamish Harding, do mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, do empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho Sulaiman Dawood, e de Stockton Rush, CEO e fundador da OceanGate, proprietária do submersível Titan, que implodiu a 500 metros do Titanic, no Atlântico Norte.

Somente entre os meses de janeiro e março foram 441 mortes na rota de imigração mais mortal do mundo. Este número, no entanto, não sensibiliza a mídia a ponto de uma campanha humanitária em favor destes homens, mulheres e crianças que buscam uma vida melhor no Velho Continente, escapando das guerras e falta de infraestrutura, que são, muitas vezes, frutos de políticas gestadas no Velho Mundo.

Mais da metade de todas as mortes registradas aconteceu em travessias para a Itália, apesar de a Espanha se ter tornado o principal destino. Cerca de 48 mil pessoas chegaram a Espanha por via marítima, em comparação com 22 mil na Itália e 27 mil na Grécia.

A experiência (?) de ver os destroços do Titanic, cujo naufrágio matou cerca de 1,2 mil pessoas, custa US$ 250.000 (cerca de um milhão de reais) por pessoa, de acordo com o site da OceanGate Expeditions. A empresa tem sede em Everett, Washington, foi fundada em 2009 pelo engenheiro aeroespacial Stockton Rush, que também morreu no submarino.

O turismo de milionários (e bilionários) também movimenta grandes quantias no espaço. Os ingressos para um vôo na estratosfera no foguete da Space Perspective custa US$ 125.000 (cerca de R$ 664 mil) por pessoa, e a empresa informa que já vendeu quase 900 deles.

O mundo deve lamentar as mortes de Hamish Harding, Paul-Henri Nargeolet, Shahzada Dawood , Sulaiman Dawood e Stockton Rush, pois cada vida conta neste planeta. Mas não dá para glorificar a morte dos 1% mais ricos e esquecer a vida e morte miserável dos 99% mais pobres.

Fotos: Acnur e reprodução