Relatório sobre a Estado da População Mundial enfatiza importância da saúde reprodutiva, sociedades prósperas e inclusivas; documento incentiva promover a igualdade de gênero em todo o mundo para lidar com mudanças demográficas.
Esta quarta-feira, o Fundo da População das Nações Unidas, Unfpa, lançou o Relatório sobre o Estado da População Mundial 2023.
A análise 8 Bilhões de Vidas, Infinitas Possibilidades, o Caso de Defesa de Direitos e Escolhas foca na saúde reprodutiva, descrevendo como construir sociedades prósperas e inclusivas, independentemente do tamanho da população.
O relatório observa que o tamanho atual da população global não é uma calamidade, ilustrando que mais pessoas estão vivendo mais tempo e com mais saúde.
A representante do Fundo de População das Nações Unidas, Unfpa, em Genebra, Mónica Ferro, falou à ONU News sobre como agir diante da realidade demográfica contemporânea.
“O nosso relatório mostra que as pessoas, hoje, ainda não são capazes de atingir os seus objetivos reprodutivos devido à gravidezes não intencionais, à falta de contracepção ou cuidados obstétricos de qualidade, infertilidade, instabilidade econômica entre tantos outros desafios. Mostra também que os desafios ambientais e econômicos não podem ser resolvidos com engenharia demográfica, tentando aumentar ou baixar a população. Em vez de instituir políticas para influenciar as escolhas das pessoas, os governos deverão trabalhar para emponderá-las para que atinjam os seus objetivos reprodutivos individuais.”
A representante recomenda maior resiliência em políticas que apoiam o desenvolvimento sustentável dos direitos humanos e proporcionam mais poder para que as pessoas cumpram os seus ideais reprodutivos e tenham bem-estar geral.
“Chegou o tempo de tentarmos uma nova abordagem. Uma visão da população que coloca as pessoas no centro. É tempo de pôr de lado os medos, de nos afastarmos de objetivos demográficos em direção à resiliência demográfica. É capacidade de se adaptar às flutuações do crescimento populacional e das taxas de fertilidade, que têm tido lugar ao longo da história e continuarão a ocorrer. Isto implica em investir na recolha de dados que olhe para e que olhe para além das somas populacionais e das taxas de fertilidade. O que significa fazer as perguntas certas tais como se as pessoas conseguem se desfazer dos seus objetivos de fertilidade.”
O Unfpa defende que a análise da taxa de mudança populacional deve levar governos e sociedades a criar ferramentas políticas com base na escolha individual e nos direitos reprodutivos em favor da resiliência diante da mudança demográfica.
“Precisamos mudar radicalmente a forma como falamos e planejamos para essas dinâmicas populacionais. As taxas de fertilidade não são nem o problema nem a solução. Temos que olhar de forma mais integrada para as causas profundas e para as funções provadas para os desafios das nossas sociedades. Todos os países devem manter os direitos humanos e devem reforçar os sistemas de cuidado de saúde e pensões, promover um envelhecimento ativo e saudável, promover os direitos humanos dos imigrantes e procurar mitigar os efeitos e promover uma adaptação às alterações climáticas.”
O documento destaca a mortalidade materna entre os indicadores da saúde. Entre os países de língua portuguesa, Guiné-Bissau tem mais mortes: 725 para cada 100 mil nascidos vivos. Seguem-se Angola, com 222, e Timor-Leste registrando 204 óbitos.
Em Moçambique, as mortes de mães chega a 127 para cada 100 mil nascidos vivos, São Tomé e Príncipe 146, Brasil 72, Cabo Verde 42 e Portugal 12 óbitos.
Outro parâmetro analisado foram os dados do acesso à saúde universal. Portugal lidera o índice com 84%. Depois estão Brasil com 75%, Cabo Verde com 69%, Angola 68%, Timor-Leste 53%, Moçambique 47%, São Tomé e Príncipe 46% e Guiné-Bissau 37%.
O levantamento destaca a ação de governos tentando influenciar taxas de fertilidade devido a preocupações com a demografia. Para melhores resultados, a recomendação é que as mulheres possam escolher o momento de gerar seus filhos.
Vários países têm atuado para promover a resiliência demográfica, ajudando a “superar as respostas alarmistas e a abraçar as oportunidades dinâmicas disponíveis, sem distinção da forma como as populações estão mudando”.
O documento defende que a alta ou declínio populacional forçado não resolverá os desafios econômicos e ambientais globais. A melhor maneira de gerenciar a mudança demográfica é promover a igualdade de gênero em todo o mundo.