Mais de 1.200 estudantes estão reunidos no Pavilhão da Bienal de São Paulo para o Festival SESI de Robótica, que começou nesta sexta-feira (27) e vai até domingo (29). Robôs autônomos e teleoperados por meio de controles remotos; feitos de peças de LEGO ou de itens reutilizáveis, como acrílico, madeira, plástico e metal; réplicas em miniatura de Fórmula 1; protótipos de soluções para o mundo da logística; muita música e animação.
O primeiro dia ficou marcado pela montagem dos pits – estandes que as equipes decoram para exibirem suas criações -, partidas teste, avaliações de sala e pela abertura oficial do evento. Depois de dois anos sem torneio nacional presencial, os estudantes chegaram cedo e com grande expectativa:
"Eu estou muito animada com tudo, ao mesmo tempo que é meu primeiro ano, é meu último, porque já tenho 16 anos. Estou com o coração a mil e emocionada. Foram nove meses de preparação para o dia de hoje e vamos dar nosso máximo pra ter o melhor resultado!", garantiu Giovanna Castilho, da equipe Gipsey Danger, do Maranhão.
São três modalidades de competição: a FIRST LEGO League (FLL), a FIRST Tech Challenge (FTC) e o F1 in Schools. A primeira, para estudantes de 9 a 16 anos, é a porta de entrada no mundo da robótica. Como eles precisam construir e programar um robô de LEGO e elaborar um projeto de inovação, para muitos, é o primeiro contato com metodologia científica, programação e conceitos básicos de engenharia.
“A robótica é uma oportunidade única na vida, temos que lidar com apresentações, pesquisas, programação, matemática e física. Isso nos traz muitas oportunidades tanto na escola, quanto pro nosso crescimento pessoal. Eu mudei muito depois que entrei. Participar do campeonato nacional é outra grande oportunidade, ainda mais presencialmente, que temos que lidar também com nossas emoções e ansiedade. Tivemos que reaprender a lidar com novos ritmos, porque no digital era tudo muito rápido. Quando voltamos presencial, ficamos confusos até entender o ritmo do processo. Tudo se ajeitou, mas precisamos trabalhar juntos para conseguir”, Pedro Lopes equipe Albatroid (DF).
Uma família de robotiquers
Além das habilidades técnicas, eles também criam laços e amadurecem, em uma etapa crucial de descoberta e construção da identidade. Amanda Frolini é uma das integrantes da Biotech, de São Paulo, e acredita que a robótica é o momento em que você entende a necessidade de ter uma rede de apoio, de amigos, parceiros e professores.
“Passamos muito tempo juntos. Muito além de criar os robôs, pensar nas soluções para os projetos de inovação, também dividimos momentos bons e ruins. Nos tornamos muito mais que amigos, somos irmãos, família. Temos muita interação com diversas idades, temos pessoas do segundo ano do Ensino Médio, como eu, trabalhando ao lado de pessoas da 8ª série, como o Arthur, e, mesmo assim, somos muito próximos. Todo mundo ensina pra todo mundo”, disse.
Grandes robôs, grandes habilidades
Na FTC, o desafio para construir o robô é mais complexo, já que eles são maiores, mais pesados, construídos de diferentes materiais e devem ser programados para 2 minutos e meio de partida - sendo 30 segundos no modo autônomo, no qual eles usam apenas instruções pré-programadas e sensores, e 2 minutos de período teleoperado, com o controle remoto.
Aluno de escola pública até o 9º ano, Pedro Oliveira, 16 anos, entrou no SESI de Jacarepaguá (RJ) no 1º ano do ensino médio como bolsista. Assim que entrou, a escola publicou um edital da equipe de robótica e, incentivado pelo técnico Júlio Junior, que também é professor do SENAI de Programação e Automação, ele acabou entrando para o time de FTC, a Alpha Technology.
“O Júlio me deu algumas mentorias de programação JAVA e fui me apegando muito à linguagem e me descobrindo ainda mais. Me desenvolvi nas tecnologias da indústria 4.0, como inteligência artificial. Hoje, nossa equipe utiliza softwares avançados utilizados na indústria e técnicas como visão computacional, controles de automação, como PID”, lista Pedro Oliveira, responsável pela programação do robô.
A robótica, que até dois anos atrás ele não conhecia, virou uma paixão e um pontapé para a carreira. Quando terminar o ensino médio, ele já terá no currículo o técnico de Programação de Jogos Digitais. “Ele sabe o potencial que os alunos têm, gosta de a gente explorar e busca despertar o interesse. Antes eu não sabia nada de robótica, mas pretendo seguir nessa área, fazer um curso superior de Engenharia de Software”.
Um carrinho de Fórmula 1 e um projeto social para a minha comunidade
Segunda cidade mais populosa de Tocantins, Araguaína tem cerca de 190 mil habitantes e 30 escolas municipais, com centenas de alunos com alguma deficiência visual, autismo, déficit de atenção, além de crianças que não têm o hábito da leitura. Mas o que a robótica - mais especificamente uma corrida de Fórmula 1 - tem a ver com isso? No F1 in Schools, os estudantes devem não só projetar e colocar nas pistas uma réplica em miniatura dos carros de Fórmula 1, como também cuidar da gestão de uma empresa e tocar projetos sociais. No início deste ano, os integrantes da escuderia Tucuna decidiram que iam trabalhar pela inclusão e deixar um legado para pós-temporada das competições.
“Temos uma aluna, da minha sala inclusive, que tem deficiência visual. Em algumas aulas, eu percebia a aflição dela em não conseguir entender o que os professores queriam dizer. Aí levei isso para a equipe e passamos a desenvolver kits, feitos a partir de impressora 3D, para diferentes matérias. Sabemos que o tato é muito importante, ela tateando consegue visualizar, imaginar, aí abrangemos para pessoas com déficit de atenção e autismo para tornar o ensino mais dinâmico, porque sabemos que eles têm dificuldade de focar em certas atividades por muito tempo”, conta Jullyana Silva, 17, diretora de Recursos e Portfólio da equipe.
Com o sucesso do projeto, eles levaram a proposta para a secretária de Educação municipal, que está implementando a iniciativa nas escolas da prefeitura. Mais de 100 peças já foram impressas. Uma das alunas, de 9 anos, tinha ido ao Rio de Janeiro e o sonho dela era “ver” o Cristo, o que foi possível por meio do tato. Não satisfeitos, os integrantes da Tucuna ainda desenvolveram um projeto literário, também para as crianças da rede pública.
As oficinas de tecnologia abertas ao público e as partidas oficiais começam amanhã, e você pode acompanhar a cobertura completa na Agência de Notícias da Indústria e no Instagram do Festival SESI de Robótica.