Três dias após anunciar que irá posicionar armas nucleares em Belarus enquanto guerreia na vizinha Ucrânia, a Rússia de Vladimir Putin voltou a exibir seu status de superpotência atômica e fez um raro teste com dois mísseis Moskit no mar do Japão.
Na semana passada, Moscou já havia feito uma patrulha com outros dois vetores de armamento nuclear, os bombardeiros estratégicos Tu-95MS, em uma área do mar ainda mais próxima dos domínios de Tóquio. Ali, o protesto era claro: o premiê japonês, Fumio Kishida, visitava no mesmo dia Kiev, enquanto o líder chinês, Xi Jinping, estava com Putin no Kremlin.
O teste desta terça (28) ocorreu em águas russas, perto de Vladivostok, a base da Frota do Pacífico do país. Os dois P-270 Moskit, um míssil antinavio de 4,5 toneladas que pode carregar uma ogiva nuclear, foram disparados de uma corveta conta um alvo a cerca de 100 km no mar.
Usado desde 1984 pela então União Soviética e exportado para a China e o Egito, o Moskit é uma arma antinavio de grande porte, que pode atingir até 3.700 km/h. Se armada com uma ogiva nuclear, é capaz de destruir um grupo de embarcações.
Rússia voltou a exibir seu status de superpotência atômica e fez um raro teste (Reprodução/Twitter)
"Como a invasão da Rússia da Ucrânia continua, as forças russas também estão mais ativas no Extremo Oriente, incluindo a vizinhança do Japão", afirmou o chanceler do país asiático, Yoshimasa Hayashi, cujo governo abraçou o militarismo como forma de tentar conter a China.
Ele também condenou, em uma entrevista coletiva de rotina, o posicionamento das armas russas em Belarus. Nesta terça, o governo do ditador Aleksandr Lukachenko defendeu a medida, dizendo que ela foi provocada por ações agressivas da Otan (aliança militar do Ocidente). Analistas têm dúvidas, contudo, da capacidade de Moscou em executar o plano até julho, conforme anunciado por Putin.
O flanco leste da Guerra Fria 2.0, primariamente entre Estados Unidos e China mas que tem a Rússia como ator ativo desde o pacto entre Putin e Xi, 20 dias antes da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, teve mais atividade nesta terça.
A Coreia do Norte, ditadura comunista que é apoiada por Moscou e por Pequim, apesar de desavenças ocasionais, anunciou ter desenvolvido uma nova classe de pequenas armas nucleares.
A revelação foi no estilo típico do país: com o ditador Kim Jong-un visitando o Instituto de Armas Nucleares e inspecionando o que seriam as ogivas Hswasan-31 de dimensão suficiente para ser colocada em um míssil intercontinental --seus modelos podem atingir os territórios americanos no Pacífico e parte da costa oeste dos EUA.
Segundo um especialista sul-coreano ouvido pela agência Reuters, Kim Dong-yup, as imagens são "preocupantes" porque não parecem se referir a ogivas táticas, de uso limitado ao campo de batalha, e sim a miniaturização de modelos estratégicos de longo alcance, que visam alterar cursos de guerras destruindo cidades inteiras.
No mais, a retórica usual do ditador, que afirmou que é preciso aumentar a produção de material físsil para alimentar as bombas de forma "exponencial", segundo a agência estatal KCNA. Ele também disse que as novas armas podem ser usadas contra qualquer adversário, "em qualquer lugar".
Além da Coreia do Sul, que vive em uma guerra congelada desde 1953 por armistício com seus vizinhos do norte, o Japão é um dos aliados norte-americanos mais preocupados com a crescente agressividade de Kim.
Pyongyang acelerou seu programa de testes de mísseis balísticos no ano passado, disparando modelos que voaram por cima de território japonês. Enquanto seja improvável que Kim use suas armas, que são a maneira mais crível que ele tem de tentar forçar negociações para aliviar as sanções contra o país e manter seu poder doméstico, o risco sempre está presente.
No contexto do embate global, os norte-coreanos são um elemento de instabilidade ideal para russos e chineses no Pacífico, região tornada prioridade pelos EUA, que reforçaram a aliança política Quad (com Japão, Austrália e Índia) e firmaram um pacto militar com Austrália e Reino Unido.
A divulgação de Kim ocorre ao mesmo tempo em que chegou à Coreia do Sul um porta-aviões americano, que irá participar dos exercícios militares entre Washington e Seul. Os EUA mantêm quase 30 mil soldados no país aliado, e cerca de 50 mil no Japão.
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