O artista plástico goiano Siron Franco vai inaugurar, no dia dois de dezembro deste ano, uma escultura em Porto Alegre em homenagem aos heróis desconhecidos que salvaram milhares de vidas durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio deste ano. O Monumento ao Voluntário Anônimo ficará exposto no Parque Pontal, na capital gaúcha.
Financiado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), a obra conta com 30 figuras humanas de mãos dadas, cada uma com dois metros de altura, voltadas para as águas do lago Guaíba, que invadiu a cidade durante a catástrofe que aconteceu no primeiro semestre deste ano. As imagens em aço que representam 15 homens e 15 mulheres foram inspiradas em imagens dos voluntários realizando socorro à população na água das enchentes.
Em entrevista ao Jornal Opção, Siron Franco conta que possui relação antiga com Porto Alegre. “Há 52 anos atrás eu já estava expondo aqui”, compartilha o artesão. Reconhecendo as dores da tragédia ambiental, o artista reforça o peso da obra que, além de servir como formação artística para os mais jovens, é um lembrete constante dos danos crescentes que vêm com as mudanças climáticas. “Ou o homem para, ou a gente vai desaparecer”, alerta, se referindo também às enchentes que acometeram outras partes do mundo em 2024, como a Espanha e a Itália.
Siron compartilha que foram quatro meses de intenso trabalho para criação das imagens, que foram enviadas de caminhão para o Rio Grande do Sul, onde serão instaladas. O artista plástico chegou à capital gaúcha na tarde da última quinta-feira, 14, para completar a instalação do monumento.
Leia também: Aeroporto de Porto Alegre volta a funcionar na segunda-feira
Confiança da indústria cresce no Brasil, mas cai na região Sul
Catástrofe do Rio Grande do Sul não é apenas um evento climático, mas também um erro humano
O artista conta que a escultura não possui base, as figuras ficam enterradas, então a impressão que se tem é de que “elas [as estátuas] estão soltas no chão”. Apesar das figuras serem diferentes umas das outras, Siron destaca que estão todas na mesma altura, já que “para mim são iguais essas pessoas”. O escultor destaca a bravura e altruísmo dos gaúchos diante da tragédia como inspiração maior para o trabalho.
Pensando nos apoiadores do projeto, o goiano agradece os representantes da IEE, a Prefeitura de Porto Alegre que cedeu o espaço para instalação da obra, e também o curador Renato Malcon.
Em Goiânia
Ao se referir ao significado do Monumento ao Voluntário Anônimo para a ressignificação da tragédia que aconteceu no estado sulista, o escultor lamenta nunca ter conseguido instalar uma obra dessa natureza em Goiânia. Para ele, usar arte para trazer nova perspectiva sobre as catástrofes que acometem um povo é uma forma de “retirar o estigma”. “Infelizmente eu nunca consegui fazer um em Goiânia”, lamenta.
Segundo Siron, tentativas não faltaram. Houve projeto para criação de monumento em homenagem às vítimas do acidente radiológico do Césio-137, ocorrido na década de 1980. Além disso, certa vez, Siron Franco produziu e doou um monumento em homenagem às nações indígenas para o município de Goiânia. Entretanto, “doei para a cidade e foi destruído”, compartilha o artista plástico.
“Espero que um dia a cidade possa remeter as suas tragédias e fazer com que essas coisas não aconteçam mais”, destaca ao relembrar a capacidade da arte ressignificar a história de um povo.