Nesta quarta-feira, 16, Fernanda Montenegro, a grande dama das artes cênicas no Brasil, celebrou seu 95º aniversário. Com uma carreira que se estende por mais de sete décadas, a atriz consolidou seu nome na história da televisão, teatro e cinema brasileiro.
Desde suas primeiras atuações como radioatriz até seu sucesso internacional em “Central do Brasil”, Fernanda construiu um legado artístico que atravessa gerações. Em uma mensagem nas redes sociais, a atriz destacou a longevidade de sua trajetória: “Hoje eu comemoro 95 primaveras e 80 delas no palco”, afirmou.
O início de uma carreira brilhante
Nascida Arlete Pinheiro da Silva em 16 de outubro de 1929, no subúrbio carioca, Fernanda Montenegro tem descendência portuguesa e italiana. Antes de brilhar nos palcos e nas telas, Fernanda era apenas Arlete, que cursava secretariado. Sua primeira incursão no universo da arte aconteceu de forma inesperada, quando se inscreveu em um concurso de locução e foi contratada como locutora na Rádio MEC. Foi nesse ambiente que sua paixão pela interpretação floresceu e ela logo se tornou radioatriz.
A mudança de nome, que marcaria sua trajetória, ocorreu quando Arlete percebeu que seu nome de batismo não refletia o romantismo e a força que desejava para sua carreira. Inspirada por romances e por um médico conhecido da família, adotou o nome Fernanda Montenegro, uma decisão que a posicionaria como uma das maiores artistas do país. “Quando fui escrever, achei que era muito ‘Arlete Pinheiro’. Aí inventei esse nome (Fernanda Montenegro) para redigir”, revelou a atriz em uma entrevista à Rádio MEC.
Do rádio aos palcos e às telas
Fernanda Montenegro fez sua estreia no teatro em 1950, com a peça “Alegres Canções nas Montanhas”, ao lado de seu futuro marido, o ator Fernando Torres.
Essa foi apenas a primeira de uma série de 65 peças que Fernanda encenou ao longo de sua carreira teatral. Sua versatilidade também a levou ao cinema, onde estreou em 1964, em “A Falecida”, de Leon Hirszman, baseado na obra de Nelson Rodrigues. Esse foi o começo de uma prolífica carreira no cinema, com mais de 18 filmes e inúmeras novelas na televisão brasileira.
Um dos marcos mais queridos de sua filmografia é sua participação em “O Auto da Compadecida”, de 1999, onde interpretou Nossa Senhora na adaptação da peça de Ariano Suassuna. A produção se tornou um dos maiores sucessos do cinema brasileiro e reafirmou o carisma e a presença marcante de Fernanda em papéis icônicos.
O papel da família e a vida pessoal
Na vida pessoal, Fernanda Montenegro teve uma parceria de décadas com o também ator Fernando Torres, com quem se casou aos 23 anos. O casal teve dois filhos, Claudio Torres, diretor de cinema, e Fernanda Torres, atriz que seguiu os passos da mãe na dramaturgia.
Inclusive, mãe e filha se destacam mais uma vez em um importante projeto cinematográfico. O filme “Ainda Estou Aqui”, protagonizado por Fernanda Torres e Selton Mello, com participação especial de Montenegro, foi escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional. O longa, que tem lançamento previsto para 7 de novembro, promete emocionar o público com sua história sensível e atuações impecáveis.
Contribuições para as futuras gerações e momento em Goiânia
Ao longo de sua carreira, Fernanda não apenas brilhou nos palcos, mas também se dedicou a incentivar as novas gerações de atores. Em 2002, ela coordenou o projeto Oficina de Leitura Dramática, com patrocínio da Brasil Telecom, que passou por várias cidades do Brasil, incluindo Goiânia, Florianópolis e Campo Grande. Na capital de Goiás, o momento especial foi ministrado no Teatro de Goiânia.
“Pensar e adestrar a arte dramática é entender a liberdade com que se deve enfrentar as diversas linguagens de interpretação por meio da pluralidade das encenações”, disse Fernanda durante o projeto.
Prêmios e reconhecimento internacional
Ao longo de sua carreira, Fernanda Montenegro conquistou inúmeros prêmios e homenagens, tanto no Brasil quanto no exterior. Um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi sua atuação no filme “Central do Brasil”, dirigido por Walter Salles em 1998. O papel de Dora, uma professora aposentada que ajuda um menino a reencontrar seu pai, rendeu à atriz o Urso de Prata no Festival de Berlim e uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, tornando-se a primeira atriz latino-americana a ser indicada ao prêmio.
Embora não tenha levado o Oscar, Fernanda foi agraciada com o prêmio da Associação Norte-americana de Críticos de Cinema, além de vários outros troféus ao longo dos anos. Outro destaque de sua carreira foi o Emmy Internacional de Melhor Atriz, conquistado em 2013, por sua interpretação de Dona Picucha no especial “Doce de Mãe”. Nesse papel, Fernanda deu vida a uma senhora de 85 anos que enfrenta mudanças inesperadas em sua vida com muito humor e sensibilidade.
A dama imortal da cultura brasileira
Mesmo com o passar dos anos, Fernanda Montenegro nunca deixou de estar presente nas artes. Nos anos 2000, a atriz começou a diminuir sua frequência nos palcos, mas nunca abandonou completamente o teatro. Ela se dedicou a projetos de leitura dramática, explorando textos de grandes autores como Simone de Beauvoir, com quem interpretou o monólogo “Viver sem tempos mortos”, premiado com o Shell de Melhor Atriz em São Paulo.
Fernanda também fez história ao se tornar a primeira atriz a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, em 2019. Sua entrada na ABL veio após a publicação de sua autobiografia, “Prólogo, Ato e Epílogo”, que retrata sua vida e carreira de forma intimista e comovente.