O norte-americano Henry "Hank" Rosso (1917-1999), considerado o pai da arrecadação de fundos ética e filantrópica, conceituou o seu ramo de atuação como "a arte suave de ensinar a alegria de dar". A 137 dias das eleições nos Estados Unidos, bilionários e executivos têm ensinado que os interesses políticos estão acima de tudo. Pela primeira vez desde 30 de maio, quando foi considerado culpado de 34 acusações ligadas à fraude de documentos para ocultar o suborno à ex-atriz pornô Stormy Daniels, com quem supostamente teve um caso, o magnata republicano Donald Trump superou o presidente democrata Joe Biden em arrecadação de doações para a corrida à Casa Branca.
Em maio passado, Trump conseguiu US$ 141 milhões (cerca de R$ 767 milhões) em doações, enquanto Biden obteve US$ 85 milhões (R$ 462 milhões). De acordo com o jornal The New York Times, o comitê de campanha do republicano ultrapassou o de Biden no que diz respeito à provisão de caixa: enquanto Trump tem US$ 116,5 milhões (R$ 633,7 milhões), Biden conta com uma receita de US$ 91,6 milhões (R$ 498,3 milhões). Ao levar em consideração o valor obtido pela campanha e pelos respectivos partidos (Republicano e Democrata), Trump iniciou este mês com US$ 235 milhões (R$ 1,27 trilhão), enquanto Biden teve US$ 212 milhões (R$ 1,1 trilhão).
Professor de direito da Universidade Columbia (em Nova York), John Coffee Jr. explicou ao Correio que Trump recebeu um "presente" de US$ 50 milhões (R$ 272 milhões) de um único doador, o recluso conservador Timothy Mellon, 81 anos, que herdou a fortuna do pai, o banqueiro Andrew Mellon. "Isso certamente aumentou sua média mensal de arrecadações. Tradicionalmente, os republicanos superam os democratas no levantamento de fundos de campanha, e é algo notável o fato de Biden ter estado, até então, à frente na arrecadação", disse.
Para Coffee, o aumento nas doações para Donald Trump alavanca a percepção, ao menos entre sua base partidária, de que ele provavelmente vencerá em novembro. "Isso porque ninguém deseja financiar uma campanha derrotada", sublinhou. O especialista acredita que os grandes doadores, como Mellon, buscam comprar influência, com o dinheiro repassado à campanha. "Os pequenos doadores varejistas são, provavelmente, os verdadeiros crentes em Trump e atuam quase como seguidores de uma seita", acrescentou. Ele avalia o primeiro debate presidencial, em 27 de junho, em Atlanta (Geórgia), como um importante termômetro para avaliar a campanha de cada pré-candidato.
Allan Lichtman, historiador político da American University (em Washington), disse à reportagem que Trump goza de uma base dedicada, a qual acredita que o julgamento em Manhattan (sobre o caso Stormy Daniels) foi fraudado, de forma a prejudicar o republicano. "Trump tem forte apoio dos bilionários, os quais creem que ele os tornará ainda mais ricos, com novos cortes de impostos e desregulação. Os magnatas também temem que Biden cobrará novos impostos dos mais ricos."
Lichtman assegura que Trump não está mais à frente das mais recentes pesquisas. "A última média de pesquisas mostra Biden em ligeira vantagem. No entanto, as primeiras sondagens não têm valor preditivo. Certamente, Trump pode perder em novembro."
Jeffrey Sonnenfeld, professor de prática de liderança pela Universidade Yale, concorda com Lichtman. "É possível que Trump seja eleito, mas ele não lidera na maioria das pesquisas. Biden começa a avançar na maior parte das sondagens, até mesmo a feita pela emissora Fox News, alinhada ao ex-presidente republicano", lembrou ao Correio.
Trump também sinalizou um gesto de boa vontade aos imigrantes. Na última quinta-feira, ele sugeriu que os Estados Unidos deveriam conceder "automaticamente" a residência permanente aos estrangeiros formados nas universidades do país.