Quando analisamos o período pré-pandemia de covid-19, já em 2019, mudanças provocaram aumentos de 33% nos custos, mas também observou-se a crescente valorização da arroba, causando retenção de fêmeas e posterior valorização no preço do bezerro.
Em 2020, as incertezas que cercavam o mundo com os impactos da pandemia e a alta na cotação do dólar influenciaram os preços pecuários, principalmente a aquisição de insumos, em especial matérias-primas importadas. Segundo a Abrafrigo, a exportação foi de 2,01 milhões de toneladas, totalizando US$ 8,485 bilhões.
Já em 2021, além da crise econômica provocada pela pandemia, a pecuária assistiu a falta de animais para reposição, devido à retenção de fêmeas nos anos anteriores, além da escassez de chuvas nos principais polos produtores do país, impactando de forma negativa as exportações brasileiras. No acumulado do ano de 2021, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), o Brasil embarcou 1,85 milhões de toneladas de carne bovina, totalizando US$ 9,236 bilhões.
No início de 2022 aconteceu a retomada das exportações de carne bovina in natura para a China, suspensas em setembro de 2021 devido a casos atípicos de BSE (Bovine Spongiform Encephalopathy), doença da “vaca louca”, uma zoonose com influência direta no mercado internacional. Dessa forma, o total exportado neste ano fechou em valor superior, cerca de 26% ao ano anterior (Abrafrigo).
Em fevereiro de 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) confirmou um caso atípico de BSE no estado do Pará, resultando na suspensão da exportação para a China, medida comum como precaução sanitária adotada pelos países importadores. Considerado também um caso atípico, em 23 de março a China declarou o fim ao embargo, seguida posteriormente por países como Arábia Saudita, Palestina, Jordânia e Malásia e, mais recentemente, a Rússia.
A retomada da exportação foi considerada rápida comparada ao caso anterior, sendo assim em 2023, analisando os cenários das exportações aliados à habilitação de mais quatro plantas frigoríficas brasileiras (MAPA), o mercado se encontra aquecido. No entanto, pode se esperar alguma movimentação por descarte de fêmeas, influenciando na queda do preço da arroba do boi gordo. Porém, este momento do ciclo, pode se tornar um excelente negócio para quem pretende fazer reposição de animais, visto que os preços estão mais baixos, aproveitando o deságio e pensando nos melhores preços no segundo semestre.
Considerando a produção de insumos que compreende boa parte dos custos, devido ao aumento da produção agrícola e consequentemente disponibilidade de co/subprodutos das indústrias, será possível obter mais opções de ingredientes na alimentação animal. Esses subprodutos possuem valor agregado mais baixo do que os produtos principais, além de gerar uma grande flexibilização para a formulação de dietas, como o grão seco e resíduo úmido de destilaria.
Adicionalmente, é importante ressaltar a influência do assunto popular “gases de efeito estufa e produção de carne” no Brasil e no mundo, ganhando força por movimentos usando a prática de “dias sem carne”, com intuito de reduzir a produção animal. Esse é um desafio recente para a pecuária intensiva, mas com resposta positiva dos sistemas de produção brasileiros quando avaliamos o aumento em produtividade em relação ao uso da área existente aqui.
Este fato se deve a difusão do uso de áreas com melhor aproveitamento, como sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta usando o conceito de neutralização de gases de efeito estufa ou carbono neutro, além do investimento da indústria de nutrição animal em produtos que focam no aumento da eficiência alimentar pela redução da emissão de metano.
Por fim, considerando que o Brasil é um país seguro quanto à sanidade animal; onde podemos usar o exemplo das recentes mudanças nos programas de vacinação contra febre aftosa, as expectativas são grandes para o mercado da carne bovina. Devemos considerar modificações dentro e fora da porteira e contar com resiliência para garantir a boa produtividade no mercado no curto, médio e longo prazo no país.
Autores do artigo:
Professora Cláudia Sampaio e Professor Sidnei Lopes, do DZO/UFV.
Graduandos em Zootecnia do DZO/UFV: Amanda Moreira, Fábio Ferreira, Lara Moura e Vitor Lage