Por Maristela Crispim
Editora

Hoje, 21 de setembro, início da primavera no Hemisfério Sul, é comemorado o Dia da Árvore no Brasil, mas apenas em três das suas cinco regiões: Sul, Sudeste e Centro-Oeste. No Norte e Nordeste, a Semana da Árvore é comemorada no mês de março, mas sem uma data fixa.

Na estiagem do segundo semestre a maioria das árvores da Caatinga perde as folhas e os troncos tornam-se esbranquiçados e secos, mas quando chegam as chuvas um novo ciclo de vida é iniciado | Foto: Eduardo Queiroz

 

Isso porque no nosso País existem diferentes regiões fisiográficas e climáticas a serem consideradas. No Norte e no Nordeste, tão perto da Linha do Equador, as quatro estações do ano não são tão definidas e o período mais propício para o plantio é o chuvoso, ou seja, no primeiro semestre com algumas variações entre os meses.

E, já que a melhor forma de comemorar a data é reflorestando, ampliando a arborização urbana e as mudas necessitam dos devidos cuidados para vingarem, sendo o principal deles a irrigação adequada, não faz sentido que isso seja feito no período de estiagem.

O Decreto que estabelece a data comemorativa no território nacional é o 55.795, de 24 de fevereiro de 1965. Mas, do ponto de vista da valorização, todos os dias deveriam ser o Dia da Árvore, e não apenas um.

No Brasil, a centralização de produção de conteúdo no Sudeste, ao longo dos anos, nos livros didáticos, revistas e outras fontes de consulta para a população em geral provocaram essa essa confusão de datas. Em geral, as informações são reproduzidas e compartilhadas sem muita reflexão, o que se agravou com a popularização das redes sociais.

Duas estações

Não faz muito sentido falar em início de primavera no Norte/Nordeste. Temos duas estações: chuvosa e seca. Setembro é mês de pouca chuva, típico do verão nordestino. A Festa da Árvore na época em que começam as chuvas, por outro lado, é uma verdadeira promessa de vida no Nordeste.

Essas datas comemorativas têm papel educacional efetivo, pois ajudam a pensar, a discutir sobre a nossa qualidade de vida a partir do ambiente onde estamos inseridos. Mas não basta homenagear as árvores com poesias e canções e plantar uma muda. É preciso agir concreta e conscientemente para garantir a presença das árvores entre nós.

Nas florestas, elas garantem conforto climático e incontáveis outros serviços ecossistêmicos. Nas cidades, elas trazem benefícios ambientais, socioculturais e econômicos. Reduzem extremos da temperatura, filtram a poluição atmosférica, embelezam, protegem a fauna urbana, reduzem ruídos, proporcionam lazer e convívio social e até valorizam imóveis.

O que plantar

Mesmo reconhecendo a beleza e utilidade de muitas plantas introduzidas no Brasil, as espécies mais indicadas são as nativas, que se adaptaram ao longo de milhares de anos. Mas é preciso uma avaliação técnica séria para que a boa intenção não se torne um problema.

Alguns cuidados são básicos, como pensar na árvore que a muda se tornará, garantir espaço para o crescimento da copa e das raízes, evitar árvores com frutos pesados e suculentos nas calçadas e praças e pesquisar se a espécie possui substância tóxica.

Dinâmica da Caatinga

Neste bioma, grande parte das árvores perde as folhas todos os anos, no período de estiagem, para manter-se viva até que as chuvas cheguem e renovem o seu ciclo. Por vezes ficam só os galhos e o caule e elas parecem mortas. Mas, dessa forma, armazenam a água sem perder praticamente nada pela evaporação.

Caducifólia ou decídua é uma planta que, numa certa estação do ano, perde suas folhas, geralmente nos meses mais frios e/ou sem chuva, ou em que a água se encontra congelada ou de difícil acesso à terra.

É o que acontece na Caatinga (do tupi, mata branca), único bioma exclusivamente brasileiro, o que significa que grande parte do seu patrimônio biológico não pode ser encontrado em algum outro lugar do Planeta. O próprio nome decorre da paisagem esbranquiçada apresentada pela vegetação durante o período seco, quando a maioria das plantas perde as folhas e os troncos tornam-se esbranquiçados e secos.

A Caatinga ocupa uma área de cerca de 850.000 km², cerca de 10% do território nacional, englobando de forma contínua parte dos estados da Paraíba, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia (Nordeste) e parte do norte de Minas Gerais (Sudeste).

É o mais fragilizado dos biomas brasileiros. O uso insustentável de seus solos e recursos naturais ao longo de centenas de anos de ocupação, associado à imagem de local pobre e seco, fazem com que esteja bastante degradada, inclusive com áreas em processo de desertificação. Entretanto, pesquisas recentes vêm revelando a riqueza particular do bioma em termos de biodiversidade e fenômenos característicos.

Do ponto de vista da vegetação, a Caatinga é classificada como savana-estépica. Entretanto, a paisagem é bastante diversa, com regiões distintas, cujas diferenças se devem à pluviometria, fertilidade e tipos de solo e relevo.

Uma primeira divisão que pode ser feita é entre o agreste e o sertão. O agreste é uma faixa de transição entre o interior seco (sertão) e a Mata Atlântica (Zona da Mata). Já o sertão apresenta vegetação mais rústica. Outras subdivisões comuns incluem Seridó, Curimataú, Caatinga e Carrasco.

Com tanta diversidade e adaptação, esse bioma, assim como seus habitantes, têm muito a ensinar sobre resiliência. Mas é preciso manter o que ainda está em pé e promover o replantio de espécies nativas para que esse inteligente ciclo de regeneração possa continuar prestando seus serviços ecossistêmicos por muitas e muitas gerações.